sábado, 3 de setembro de 2011

No Mar o Tempo Nada

Mergulhado no mais profundo vazio
recuava ante o toque das gentes,
o encostar das mãos e o cheiro
do povaréu.

Daí que partiu mar adentro
onde o tempo segue na
correnteza viva, mas
sem gentes.

Quanto mais se afastava das
multidões, tanto mais se
sentia parte do oceano
e livre como nunca.

Por lá ficou navegando meses sem fim
até uma manhã onde despertou
assustado no barco à deriva
e gritou aflito ao mar:

- “O que sou, afinal?”
O oceano parecia lhe dizer,
com o barulho das ondas:
nada! tudo! nada! tudo!...

Ciente de que onde quer que fosse
levaria gente com ele, sendo gente ele também,
mergulhou até o fundo e num peixe se tornou.

Rosa Mattos